A Justiça bateu à porta do São Caetano, literalmente. Em meio a emaranhado de informações contraditórias entre representantes do clube e da Prefeitura, a única certeza é que o processo de reintegração de posse movido pelo município contra a agremiação chegou aos momentos decisivos. Hoje pode acontecer o desfecho do imbróglio que dura quatro meses com a transferência da administração para a Prefeitura.
O presidente do clube, Nairo Ferreira de Souza, assumiu que recebeu oficial de justiça e o secretário de Esportes, Mauro Chekin, para conversar. "Eles estiveram na sede. Foi um encontro tranquilo. Expliquei ao Mauro que não quero brigar na Justiça nem desgastar minha relação com o prefeito (José Auricchio Júnior). Quero apenas que seja mantido o trabalho que realizamos aqui há 11 anos", declarou. "Terei outro encontro com o Mauro na quarta-feira. Espero que possamos resolver da melhor maneira", completou.
No entanto, a versão de Chekin é diferente. "Comunicamos o Nairo da decisão da Justiça. Hoje (ontem) funcionários da Prefeitura, da Justiça e do São Caetano estão fazendo levantamento de tudo o que está no local e pertence ao clube. Esse trabalho deve terminar amanhã (hoje). Com esse inventário iremos ao local com o oficial de justiça para executar a ordem de reintegração de posse", explicou.
Nairo, no entanto, não confirmou. "Ninguém esteve aqui hoje (ontem). Tenho certeza que o diálogo com o Mauro vai ser suficiente para acabar com esse assunto", garantiu.
Apesar da confiança demonstrada pelo dirigente, por enquanto as tentativas de negociação não surtiram efeito. A Prefeitura ofereceu o antigo prédio da imprensa, no Estádio Anacleto Campanella, para que o clube transferisse para lá sua sede administrativa. A proposta, porém, foi recusada por Nairo.
"Aquele prédio está com a estrutura condenada. Não há a menor possibilidade de usarmos aquilo como sede. Não teria coragem de receber ninguém em um lugar como aquele. Se essa fosse a solução, eu teria alugado uma sala na cidade e mudaria para lá. Quero um acordo para que possa continuar aqui", afirmou Nairo.
Segundo o dirigente, o interesse pela manutenção do local é exclusivamente pelo trabalho desenvolvido. "Não ganho um tostão na sede social. Pelo contrário, muitas vezes tive que colocar dinheiro lá. Se a Prefeitura me garantir que irá manter o corpo de funcionários e a qualidade da administração, desocupo hoje (ontem) mesmo a sede", garantiu, se ajoelhando no chão como se estivesse agradecendo por tirar um peso de suas costas.
ESPERANÇA - Nairo se agarra à última alternativa que resta na Justiça para impedir a reintegração de posse. Os advogados do clube entraram com pedido de afastamento do juiz que julgou o caso e de Sergio Pardal, diretor do 4º Cartório de São Caetano. A justificativa é que Pardal seria funcionário da Prefeitura e não poderia ter participado do processo.
Dependências deixam Nairo orgulhoso
Ao caminhar pelos luxuosos corredores da sede social, no bairro Cerâmica, o presidente do São Caetano, Nairo Ferreira de Souza, não esconde o orgulho de ter levantado em 11 anos um clube com dimensões modestas, mas com ambientes extremamente agradáveis.
Na iminência de ter que abandonar o local, o dirigente lamenta a forma como tem sido tratado. "Há alguns meses recebi comunicado oficial que dizia que eu teria que esvaziar a sede em 30 dias. Não entendi nada. Peguei a área sem nada, apenas com esqueleto de prédio e transformei no que é hoje. De repente, sem mais nem menos, me mandam deixar o local", surpreende-se.
O processo faz parte do cumprimento da lei de municipalização dos clubes, aprovada em junho pela Câmara, que exige a reintegração de posse de todas as áreas cedidas pelo município em regime de comodato. A AD São Caetano se enquadra na determinação.
Nairo, porém, se defende. "No mínimo, ainda estou no prazo do contrato de comodato, que é de 15 anos. A área, teoricamente, foi cedida em 1992, quando o (Luiz Olinto) Tortorello era prefeito. Depois (em 1993) entrou o (Antonio José) Dall''Anese e usou o espaço para alojar entulho. Só pude assumir mesmo em 1999. Portanto, ainda restam dois anos", assegura.
Ao apresentar sua criação, um dos pontos que chegam a emocionar o dirigente é a escolinha de balé. "Quando entro em briga como essa, penso nas pessoas que convivem conosco. As meninas do balé, por exemplo, são capazes de colocar 1.500 pessoas no Teatro Paulo Machado na apresentação de fim de ano. Certamente nenhuma outra academia ou clube consegue feitos como esse na região. Ainda tem os meninos das categorias de base que moram e dependem do clube, o boxe e muitas outras modalidades", ressalta.
Abrindo o jogo, Nairo garante que os R$ 40 mensais cobrados dos associados no plano familiar são suficientes para manter o caixa equilibrado. "A Prefeitura quer abrir o clube à comunidade, como farão para pagar as contas? Isso que quero saber. Não penso em sair daqui sem garantias de continuidade. Afinal, posso dizer que é uma vida de trabalho em prol da sede", finaliza.